Leitura e interpretação

O suor e a lágrima

Carlos Heitor Cony


Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

O texto acima foi publicado no jornal “Folha de São Paulo”, edição de 19/02/2001, e faz parte do livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha”, Publifolhas – São Paulo, 2001, pág. 319, organização de Arthur Nestrovski.

fonte: www.releituras.com.br

Questões:

1) Qual a função do primeiro parágrafo do texto? Explique.

2) Qual é o estilo da linguagem empregada? Comprove com trechos ou expressões contidas no texto.]

3) Retire do texto um trecho descritivo e indique qual dos cinco sentido é o preponderante. Depois, comente qual a importância da descrição para o conjunto do texto.

4) Sintetize a cena que serve como base para o texto.

5) Qual a reflexão elaborada a partir da cena apresentada? Explique.

6) A qual gênero textual pertence o texto lido? Explique.

Análise de Crônica - Aula 2º ANO - 24.08.09

Parte 1 - Leia o texto abaixo (http://www.releituras.com/i_samuel_fsabino.asp)


A última crônica
Fernando Sabino
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Texto extraído do livro "A Companheira de Viagem", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1965, pág. 174.

Parte 2 - Responda às questões.

1) Considerando o texto de Sabino, quais seriam características de uma crônica? Onde encontra-se material para uma crônica?

2) Qual figura de linguagem é a mais marcante nos primeiros parágrafos? Em que consiste esta figura?

3) Quais são as principais características das personagens? Como elas se comportam?

4) Como o ambiente contribui para o desenrolar da narrativa?

5) No texto, de quem são as palavras "parabéns pra você, parabéns pra você..."? Qual tipo de discurso foi empregado?

6) Sabino, na última linha do texto, elabora uma reflexão sobre a cena narrada. Explique resumidamente como o autor gostaria que fosse sua última crônica.

Homem na Lua

Confira!
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3409638-EI304,00-Primeira+viagem+humana+a+Lua+completa+anos.html

AMAZÔNIA

Entrevista com Marina Silva. Confira na página da Caros Amigos.
http://carosamigos.terra.com.br/

ENEM

Informe-se!

http://www.enem.inep.gov.br/

Meio Ambiente - na esteira da Festa da Família


Aproveitando a Festa da Família que ocorrerá nos dias 18 e 19 de junho de 2009, além dos trabalhos feitos por vocês, recomendo a leitura da página especial do Estadão sobre o Dia do Meio Ambiente.

Acesse o link:




Boa leitura!


HugoAS

Muro de BERLIM - 20 anos

Pessoal,
Segue link com um texto resumindo o significado do muro de Berlim. Leiam!

http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/geral/queda_muro_berlim


Deem uma olhada neste também:
http://www.parana-online.com.br/canal/viagem-e-turismo/news/345425/

Euclides da Cunha - Centenário


Este ano é o centenário de morte de Euclides da Cunha. Aproveite para saber mais sobre ele e sobre sua obra. ABL (Academia Brasileira de Letras) criou uma página dedicada ao autor. Aproveite!

Tribos Urbanas



Pesquise nos links abaixo sobre as tribos urbanas. Você pertende a alguma delas?


O conceito de Identidade.


Identidade é a igualdade completa. Cultural é um adjetivo de saber. Logo, a junção das duas palavras produz o sentido de saber se reconhecer. Muitas questões contemporâneas sobre cultura que se relacionam com questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade cultural acaba influenciada por questões sobre: place, gênero, raça, história, nacionalidade, orientação sexual, crença religiosa e etnia.
Na percepção individual ou coletiva da identidade, a cultura exerce um papel principal para delimitar as diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda as características próprias de cada grupo humano. A influência do meio constantemente modifica um ser já que nosso mundo é repleto de inovações e características temporárias, os chamados "modismos". No passado as identidades eram mais conservadas devido à falta de contato entre culturas diferentes; porém, com a globalização, isso mudou fazendo com que as pessoas interagissem mais, entre si e com o mundo ao seu redor. Uma pessoa que nasce em um lugar absorve todas as características deste, entretanto, se ela for submetida a uma cultura diferente por muito tempo, ela adquirirá características do novo local onde está agregada.
Para o teórico Milton Santos, o conhecimento e o saber se renovam do choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e técnicas, produto direto da interposição de culturas diferenciadas - com o somatório daquilo que anteriormente existia. Para ele, a globalização que se verificava já em fins do século XX tenderia a uniformizar os grupos culturais, e logicamente uma das conseqüências seria o fim da produção cultural, enquanto gerador de novas técnicas e sua geração original. Isto refletiria, ainda, na perda de identidade, primeiro das coletividades, podendo ir até ao plano individual.
Segundo Stuart Hall (1999) uma identidade cultural enfatiza aspectos relacionados ao nosso pertencimento a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas, regionais e/ou nacionais. Ao analisar a questão, este autor focaliza particularmente as identidades culturais referenciadas às culturas nacionais. Para ele, a nação é além de uma entidade política – o Estado –, ela é um sistema de representação cultural (grifos do autor). Noutros termos, a nação é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição de uma dada identidade nacional. Segundo Hall (1999), as culturas nacionais produzem sentidos com os quais podemos nos identificar (grifo do autor) e constroem, assim, suas identidades. Esses sentidos estão contidos em estórias, memórias e imagens que servem de referências, de nexos para a constituição de uma identidade da nação. Entretanto, segundo Hall (1999), vivemos atualmente numa “crise de identidade” que é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e processos centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social. A modernidade propicia a fragmentação da identidade. Conforme ele, as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade não mais fornecem “sólidas localizações” para os indivíduos. O que existe agora é descentramento, deslocamentos e ausência de referentes fixos ou sólidos para as identidades, inclusive as que se baseiam numa idéia de nação.
CONFERIR: HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 3º ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1999.


Fonte: Wikipedia
* Imagens e textos de outros autores. Em caso de dicordância, favor contatar o responsável pelo BLOG.

Unificação dos vestibulares

* Observe a argumentação. Atente para as técnicas empregadas. O tema também é de seu interesse. Aproveite! :) ----- Texto já na nova ortografia.

Se obtiver a concordância dos reitores, o Ministério da Educação (MEC) unificará já em 2010 o vestibular das instituições de ensino superior mantidas pela União. Atualmente, cada uma das 55 universidades federais prepara seu próprio exame e as provas são realizadas em datas diferentes. A ideia, que acaba de ser lançada pelo ministro Fernando Haddad e é inspirada no sistema adotado nas universidades americanas, é fazer uma prova única e com validade nacional, o que permite aos aprovados escolher o curso e a universidade conforme a pontuação obtida.
Para implantar esse sistema, o MEC quer aproveitar a experiência de avaliação escolar que já acumulou desde a segunda metade da década de 90, quando lançou o antigo Provão e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Já aplicado 11 vezes, desde sua criação, o Enem é um teste com excelente imagem e credibilidade na comunidade estudantil, pois suas notas são utilizadas como critério de seleção para a concessão de bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni) e em processos seletivos de 500 instituições públicas, confessionais e privadas de ensino superior. Em 1998, ele avaliou 157 mil alunos do ensino médio. No ano passado, o número subiu para 4 milhões.
A ideia do MEC é aperfeiçoar e expandir o Enem, convertendo-o na base do vestibular unificado das universidades federais. Em seu formato atual, o Enem consiste numa prova de 63 questões de múltipla escolha e redação, realizada num único dia. O MEC quer aplicar quatro provas, com 60 questões cada uma, nas áreas de ciências humanas, linguagens, ciências da natureza e matemática, além de redação. Para os candidatos a cursos muito técnicos, como medicina, o exame também incluiria mais uma etapa, na qual seria aplicada uma prova com questões sobre disciplinas mais específicas, como ciências exatas. Com isso, o Enem passaria a ser realizado em dois dias.
O modelo do novo Enem só foi apresentado em suas linhas gerais pelo ministro da Educação. O detalhamento será feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), com base em sugestões dos reitores das universidades federais. Para os alunos, o sistema propicia a realização de um único vestibular e permite que candidatos de uma região possam se candidatar a universidades situadas em outras regiões, sem que tenham de se deslocar até elas.
Para o ministro da Educação, a unificação do vestibular tem a vantagem de aperfeiçoar o processo seletivo, tornando-o mais analítico e permitindo uma avaliação mais rigorosa das competências e habilidades dos vestibulandos. "Queremos uma prova que combine vestibular e Enem, corrigindo as distorções hoje existentes. O Enem pergunta bem, mas carece de conteúdos. O vestibular tem conteúdo, mas distorce na hora de perguntar", diz Haddad. Segundo ele, os atuais processos seletivos das universidades federais privilegiam a chamada "decoreba", não avaliando o que o aluno efetivamente aprendeu no ensino médio.
A reação inicial dos reitores, que por lei têm total autonomia para estabelecer critérios de seleção, foi favorável à proposta. Na reunião que mantiveram com Haddad, as lideranças da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aceitaram as linhas gerais da proposta do MEC. Em Pernambuco, lembrou o presidente da Andifes, Amaro Lins, as três universidades federais adotaram o vestibular unificado, numa experiência de sucesso.
O único ponto de divergência foi com relação ao prazo de implementação das mudanças. O ministro quer promovê-las o mais rapidamente possível, enquanto os reitores querem tempo para poder ouvir os conselhos universitários e realizá-las conforme as especificidades de suas instituições. A proposta será examinada na reunião plenária da Andifes que será realizada dentro de duas semanas.
A pressa do ministro é justificada por razões políticas, até porque 2010 é um ano eleitoral e a unificação dos vestibulares seria um trunfo a ser usado na campanha. Aos reitores cabe cuidar para que uma boa ideia não seja comprometida por razões políticas.

Crônica*

*Observe o uso dos tipos de discurso. Além disso, a abordagem de fatos cotidianos, típica da crônica. Boa leitura! ;)
Novos Pesadelos Informáticos
João Ubaldo Ribeiro
Outro dia, uma revista me descreveu como convicto "tecnófobo", neologismo horrendo inventado para designar os que têm medo ou aversão aos progressos tecnológicos. Acho isso uma injustiça. Em 86, na Copa do México, eu já estava escrevendo (aliás, denúncia pública: este ano não vou à França, ninguém me chamou; acho que fui finalmente desmascarado como colunista esportivo) num computadorzinho arqueológico, movido a querosene, ou coisa semelhante. Era dos mais modernos em existência, no qual me viciei e que o jornal, depois de promessas falsas, me tomou de volta. Tratava-se de coisa finíssima. O modem, por exemplo, era uma espécie de desentupidor de pia, que se fixava no telefone e que fazia aparecer do outro lado os piores bestialógicos imagináveis. Mas éramos felizes com ele.
Já no final de 86, era eu orgulhoso proprietário e operador de um possante Apple IIE (enhanced), com devastadores 140 kb de memória, das quais o programa para escrever comia uns 120. Mas eu continuava feliz, com meu monitor de fósforo verde e minha impressora matricial Emilia, os quais se transformaram em atração turística de Itaparica, tanto para nativos quanto para visitantes. Que maravilha, nunca mais ter de botar papel carbono na máquina ou ter de fazer correções a caneta — e eu, que sempre fui catamilhógrafo, apresentava um texto mais sujo do que as ruas da maioria de nossas capitais. Havia finalmente ingressado na Nova Era, estava garantido.
Bobagem, como logo se veria. Um ano depois, meu celebrado computador não só me matava de vergonha diante dos visitantes, como quebrava duas vezes por semana e eu, que não dirijo, pedia à minha heróica esposa que o levasse a Salvador, poderosíssima razão para minha conversão pétrea à indissolubilidade do matrimônio. E ai entrei na roda-viva em que hoje, mais ou menos irremediavelmente, me encontro. Já disse aqui que, no meu tempo, tudo o que o sujeito precisava para ser escritor ou jornalista eram um lápis, uma canetinha ou uma máquina de escrever. Hoje não, hoje o sujeito tem de aprender algumas coisas de novo toda semana, sob o risco de se ver desempregado, ou ridicularizado por amigos sem piedade.
Olho assim em torno, todos os meus amigos são micreiros. Basta dizer que sou amigo da Cora Rónai e do Gravatá. Todo mundo que conheço é plugado na Internet e conversa em termos incompreensíveis. A turma do Casseta e Planeta é micreira. Millôr Fernandes é micreiro. Todo mundo é micreiro. Só quem não é micreiro, que eu me lembre assim, é o festejado poeta Geraldo Carneiro, que não sabe nem numerar as páginas de seu texto a imprimir (habilidade que eu tenho, embora precariamente). Assim mesmo, em delírios paranóicos, às vezes suspeito que ele, conhecido por saber tudo, finge ignorância informática por caridade comigo. Não se pode confiar em ninguém, hoje em dia. Mas ganhei um computador novo! Fui dormir felicíssimo, pensando em meu lapetope de última geração, cheio de todas as chinfras. Mas tudo durou pouco, porque um certo escritor amigo meu me telefonou.
— Alô! — disse o Zé Rubem do outro lado.
— Você tem tempo para mim? Digo isso porque, com seu equipamento obsoleto, não deve sobrar muito tempo, além do necessário para almoçar apressadamente.
— Ah-ah! — disse eu. — Desta vez, você se deu mal. Estou com um lapetope fantástico aqui.
— É mesmo? — respondeu ele. — Pentium II?
— Xá ver aqui. Não, Pentium simples, Pentium mesmo.
— Ho-ho-ho-ho! Ha-ha-ha-ha! Hi-hi-hi hi!
— O que foi, desta vez?
— Daqui a uns quatro meses, esse equipamento seu estará completamente obsoleto. Isso não se usa mais, rapaz, procure se orientar!
— Como não se usa mais? Todos os micreiros amigos meus têm um Pentium.
— Todos os amigos, não. Eu, por exemplo, tenho um Pentium II. Isso... Ninguém tem Pentium II!
— Eu tenho. Mas não é grande coisa, aconselho você a esperar mais um pouco.
— Como, não é grande coisa? Entre todo mundo que eu conheço é só você tem um e agora vem me dizer que não é grande coisa.
— Você é um bom escritor, pode crer, digo isto com sinceridade. Quantos megahertz você tem nessa sua nova curiosidade?
— 132.
— Hah-ha-ha! Ho-ho-hihi!
— Vem aí o Merced, rapaz, o Pentium7, não tem computador no mercado que possa rodar os programas para ele.
— E como você fica ai, dando risada?
— Eu já estou com o meu encomendado, 500 megahertz, por ai, nada que você possa entender.
— Mas, mas…
Acordei suando, felizmente era apenas um pesadelo. Meu amigo Zé Rubem, afinal de contas, estaria lá, como sempre, para me socorrer. Fui pressuroso ao telefone, depois de enfrentar mais senhas do que quem quer invadir os computadores do Pentágono.
— Alô, Zé! Estou de computador novo!
— Roda Windows 98? Tem chip Merced?
— Clic — fiz eu do outro lado.

Poemário!!! :) ;)

Trata-se de ciber-poesia. O autor é Rui Torres. Entre no link e é só interagir.
Seja leitor e poeta! ;)

http://www.telepoesis.net/galeria-poemas/peditor.php

Conjugador (teste verbos estranhos, será curioso).

Clique no link abaixo e veja o conjugador de verbos.

http://linguistica.insite.com.br/cgi-bin/conjugue

*** Crédito da página de origem do conjugador.

Leia um conto.

Comentário: Observe no texto abaixo a construção das personagens como também dos conflitos do enredo. Perceba a metáfora elaborada e reflita sobre nossos comportamentos e a nossa sociedade. Boa leitura!


Como é mesmo o nome?

Marina Colasanti
Levou o manequim de madeira à festa porque não tinha companhia e não queria ir sozinho.
Gravata bordeaux, seda. Camisa pregueada, cambraia. Terno riscado, lã. Tudo do bom. Suas melhores roupas na madeira bem talhada, bem lixada, bem pintada, melhor corpo. Só as meias um pouco grossas, o que porém se denunciaria apenas se o manequim cruzasse as pernas. Para o nariz firmemente obstruído, um lenço no bolsinho.
No relógio de ouro do pulso torneado, a festa já tinha começado há algum tempo.Sorridentes, os donos da casa se declararam encantados por ter ele trazido um amigo.
— Os amigos dos nossos amigos são nossos amigos — disseram saboreando a generosidade da sua atitude. E o apresentaram a outros convidados, amigos e amigos de nossos amigos.
Todos exibiram os dentes em amável sorriso.
Recebeu o copo de uísque, sua senha. E foi colocado no canto esquerdo da sala, entre a porta e a cômoda inglesa, onde mais se harmonizaria com a decoração.
A meia hilaridade pintada com tinta esmalte e reforçada com verniz náutico exortava outras hilaridades a se manterem constantes, embora nenhuma alcançasse idêntico brilho. Abriam-se os transitórios vizinhos em amenidades que o compreensivo calar-se do outro logo transformava em confidências. Enfim alguém que sabia ouvir. Relatos sibilavam por entre gengivas à mostra e se perdiam em quase espuma na comissura dos lábios. Cabeças aproximavam-se, cúmplices. Apertavam-se as pálpebras no dardejado do olhar. O ruge, o seio, o ventre, a veia expandida palpitavam. O gelo no uísque fazia-se água.
A própria dona da casa ocupou-se dele na refrega de gentilezas. Trocou-lhe o copo ainda cheio e suado por outro de puras pedras e âmbar. Atirou-se à conversa sem preocupações de tema, cuidando apenas de mantê-lo entretido. Do que logo se arrependeu, naufragando na ironia do sorriso que lhe era oferecido de perfil. A necessidade de assunto mais profundo levou-a à única notícia lida nos últimos meses. E nela avançou estimulada pelo silêncio do outro, logo úmida de felicidade frente a alguém que finalmente não a interrompia. No mais frondoso do relato o marido, entre convivas, a exigiu com um sinal. Afastou-se prometendo voltar.
O brilho de uma calvície abandonou o centro da sala e coruscou a seu lado, derramando-lhe sobre o ombro confissões impudicas, relato de farta atividade extraconjugal. Sem obter comentários, sequer um aceno, o senhor louvou intimamente a discrição, achando-a, porém, algo excessiva entre homens. Homens menos excessivos aguardavam em outros cantos da sala a repetição de suas histórias.Não acendeu o cigarro de uma dama e esta ofendeu-se, já não havia cavalheiros como antigamente.
Não acendeu o cigarro de outra dama e esta encantou-se, sabia bem o que se esconde atrás de certo cavalheirismo de antigamente. Os cinzeiros acolheram os cigarros sem uso.
Um cavalheiro sentiu-se agredido pelo seu desprezo. Um outro pela sua superioridade. Um doutor enalteceu-lhe a modéstia. Um senhor acusou-lhe a empáfia. E o jovem que o segurou pelo braço surpreendeu-se com sua rígida força viril.
Nenhum suor na testa. Nenhum tremor na mão. Sequer uma ponta de tédio. Imperturbável, o manequim de madeira varava a festa em que os outros aos poucos se descompunham.
Já não eram como tinham chegado. As mechas escapavam, amoleciam os colarinhos, secreções escorriam nas peles pegajosas. Só os sorrisos se mantinham, agora descorados.
No relógio torneado do pulso rijo a festa estava em tempo de acabar.
As mulheres recolhiam as bolsas com discrição. Os amigos, os amigos dos amigos, os novos amigos dos velhos amigos deslizavam porta afora.
Mais tarde, a dona da casa, tirando a maquilagem na paz final do banheiro, dedos no pote de creme, comentava a festa com o marido.
— Gostei — concluiu alastrando preto e vermelho no rosto em nova máscara —, gostei mesmo daquele convidado, aquele atencioso, de terno riscado, aquele, como é mesmo o nome?

O Novo Acordo Ortográfico

Desde janeiro entrou em vigor o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. É importante inteirar-se das mudanças ocorridas, mas nem por isso devemos entrar em desespero. Para nós, aqui no Brasil, as mudanças não atingem muitas palavras de nosso cotidiano. Verifique as alterações sofridas em nossa língua no link abaixo:

Onde buscar informação

Estamos na era da informação. Vivemos conectados à rede mundial de computadores, assistimos TV, vamos ao cinema, passamos por outdoors, carregamos nossos players sempre com os fones direto nos ouvidos. Assim, nos integramos a um mundo de dados, que nem sempre são úteis.
Saiba fazer disso tudo um fato positivo em sua vida como estudante e como pessoa. Selecione o que realmente interessa e contribui para a construção de seu conhecimento e lazer. Privilegie, por exemplo, páginas da Internet que sejam confiáveis e forneçam notícias e análises consistentes.
Aqui estão algumas sugestões:
Envie recomendações sobre outras páginas. Serão muito bem recebidas.